martes, 13 de junio de 2017

Maoísmos e cultura popular, experiência portuguesa, repertórios e discursos (1972 - 1975), breves considerações, por Soraia Simões — Mural Sonoro

Maoísmos e cultura popular, experiência portuguesa, repertórios e discursos (1972 - 1975), breves considerações, por Soraia Simões — Mural Sonoro






MAOÍSMOS E CULTURA POPULAR, EXPERIÊNCIA PORTUGUESA, REPERTÓRIOS E DISCURSOS (1972 - 1975), BREVES CONSIDERAÇÕES, POR SORAIA SIMÕES

INTRO
A partir das leituras existentes no plano historiográfico quer relativas ao primeiro rompimento pela esquerda do Partido Comunista Português (PCP), por via da divisão de linha maoísta que teve em Francisco Martins Rodrigues o principal protagonista, quer no que diz respeito à profusão de teses sustentadas por testemunhos de lideres dessas correntes neste contexto e das reconstituições deste passado histórico procurou-se, com este artigo, reflectir sobre a importância dessas leituras na cultura popular e na música, que se foram combinando com a necessidade que a sociedade contemporânea teve de se ir redefinindo em função das marcas desse passado revolucionário cujas raízes ainda marcam a actualidade.

Recorrendo a bibliografia de enquadramento no âmbito historiográfico e história oral, resultado de conversas mantidas entre o ano de 2012 e 2015 com um conjunto de actores da música e da cultura populares, tomando como estudo de caso a obra cultural produzida neste período e as conversas mantidas com José Mário Branco, procurou-se aflorar uma parte deste extenso processo - que iniciou com a sua ligação à cultura, à política e à sociedade no período colonial, no contexto do seu exílio político em Paris, a partir de 30 de Abril de 1974 (data que marca a sua chegada do exílio a Portugal) e durante todo o Processo Revolucionário em Curso (PREC, 1975) -, de que modo as letras das suas canções no geral se foram inscrevendo nesse quadro de transformação e ritualizando num conjunto de determinações comportamentais de massas do campo ideológico.

Numa tentativa de compreensão desta micro-história (E.P.Thompson; 1981 - 1987) [1], ou micro análise histórica do campo social, que passou a ser não só a história de um conjunto generoso de organizações que nos anos seguintes à ditadura começaram, dentro da sua diversidade, a construir os seus imaginários de luta, como de um grupo de activistas e protagonistas da cultura popular que nesse cenário acenderiam perspectivas e expectativas quanto às lutas políticas inserindo-se em grupos políticos onde questões como o conflito da União Soviética, a tomada de partido pela China ou pela União Soviética, o problema dos resultados práticos da ditadura portuguesa e da guerra colonial pela Europa foram divulgados e denunciados quer sob a forma de textos musicados quer em manifestos.

Foram vários os opositores ao regime do Estado Novo que na esteira do seu período de maior contestação, com forte expressão no movimento estudantil académico (1961 – 1962), começaram a afastar-se da orientação do Partido Comunista Português e a aproximar-se das teses resultantes da Revolução Chinesa, aproximação essa para a qual muito contribuiu o conflito sino - soviético e, por conseguinte, o surgimento da Frente de Acção Popular (FAP/CMLP), primeira organização de base maoísta em Portugal.

O historiador Miguel Cardina, desligando-se da representação social grotesca [2] dominante a respeito dos grupos que mais influência exerceram nos anos de 1974 e de 1975 entre estas organizações, reflectiu no seu trabalho [3] em que medida o complexo maoísta ou marxista-leninista (m-l) operou e se representou no imaginário social português no recorte temporal que apontou para a sua investigação. Ao longo da sua narrativa histórica, Cardina procurou distanciar-se das limitações conservadas na memória social para a qual, ressalve-se, muito contribuiu a profusão de «teorias» e de caricaturas determinadas por uma composição discursiva e figurativa desadequada e tendenciosa no domínio interno, mas também circundante [4], destas correntes no período imediato ao 25 de Abril de 1974.

Este artigo, num universo de acção – e de reflexão crítica -, diferente do de Cardina, na medida em que incidiu num conjunto de ideias em torno da visibilidade que uma destas correntes assumiu na cultura popular, nos discursos e na prática da música de José Mário Branco em concreto, não deixou de principiar com um ponto de partida e/ou propósito coincidente com o estabelecido pelo historiador. Isto é, questionando o modo como quer a discussão política e social como as convicções de natureza ideológica inflectiram na obra discográfica do intérprete e compositor bem como em agrupamentos culturais, como o GAC [5] e o Teatro A Comuna, que integrou pretendeu reflectir sobre um período de lutas e de mudanças relevantes contribuindo de igual modo para a diluição de ‘lugares comuns’ criados no âmbito da criação e fruição musicais neste momento de transformação. Delimitou-se assim o plano de investigação tendo como sujeito principal José Mário Branco, o papel assumido pela sua obra discográfica em particular e os discursos daí resultantes, num quadro de pré queda do regime do Estado Novo.

Ao usar como ferramenta principal no trabalho de campo a história oral, num modelo indutivo e explanatório de entrevistas e numa recolha de dados biográficos exaustiva realizados ao longo de dois anos, que por sua vez dariam origem a um conjunto de debates [6] com enfoque na música no modelo histórico-social (perspectivada como encomenda social [7]), situou-o na atmosfera das discussões e dos debates que norteavam no geral as esquerdas em vários países do mundo e os encontros de discussão cultural e política que se realizavam em Portugal, primeiramente, e em França, na fase do exílio, entre um conjunto de participantes da cultura popular, onde José Mário Branco também esteve, e em particular nas circunstâncias em que se vivia no país.

A REVOLUÇÃO CULTURAL NA CHINA DA DÉCADA DE 60 E O SEU IMPACTO ENTRE A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA POLITIZADA EM FRANÇA
As críticas ao modelo soviético começaram na década de 1950 e intensificar-se-iam na década de 1960. Ainda na década de 1950 quando o Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Nikita Khrushchov (1953 – 1964), se começou a desligar da evocação à personalidade e ideais defendidos por Estaline (Era de Khurshchov, também chamada de Era de Desestalinização imposta após a morte de Stálin a 5 de Março de 1953 e marcada pela Guerra Fria) passando a ser um dos principais mentores da adopção do princípio da coexistência pacífica entre a URSS e os EUA, destacando-se ainda das suas acções políticas, entre outras, a criação do Pacto de Varsóvia em 1955, o afastamento da China liderada por Mao Tsé Tung das relações com a URSS (tendo como motivo a manutenção da sua convivência com os EUA) rejeitando a ajuda ao programa nuclear chinês ou a aprovação da construção do Muro de Berlim a 13 de Agosto do ano 1961 durante a sua administração, depois da rejeição do Oeste em aceitar o seu ultimatum para que Berlim Ocidental fizesse parte da restante cidade. Para o novo dirigente da URSS a via eleitoral passaria a substituir a via revolucionária. Apesar de tudo, a clivagem que se assinalou entre os dois blocos só aconteceria na década seguinte devendo-se tal facto, entre outros, sobretudo à censura que existia na imprensa.

No ano 1961 os partidos chinês e albanês seriam publicamente atacados e a separação entre ambos começou então a ser notada na opinião pública.

Os russos acusados de protagonizarem o «novo revisionismo» enalteceriam essa cisão que se alastraria a vários partidos comunistas a uma escala mundial. As mesmas separações expandiriam-se também ao Ocidente, especificamente a Portugal embora assumindo dimensões mais limitadas, na medida em que a tradição seguidista em relação ao Partido Comunista da URSS dominava ainda entre os grupos culturais de esquerda cá.

As organizações de esquerda que estavam já em gestação deveram grande parte da sua radicalização à campanha eleitoral realizada no ano 1958, quando Humberto Delgado concorria com Américo Tomaz à Presidência da República. Ao corporizar o principal movimento de tentativa de derrube do regime salazarista por via de eleições, num processo classificado de «fraudulento», no contexto do qual entre o movimento popular lhe atribuiriam o ‘cognome’ «General sem Medo», acender-se-ia a revolta e a frustração na sociedade portuguesa que entrava na década de 60. Década marcada pelo início da Guerra Colonial e pelo surgimento dos movimentos maoístas um pouco por todo o mundo.

O Partido Comunista Português confrontava-se, nessa altura, com várias acusações de revisionismo e com o controlo mais apertado por parte da PIDE. Ao mesmo tempo avançava-se na China para uma tentativa de teorização da análise social do processo de construção do socialismo, constatando-se que a luta de classes permanecera durante o período da construção do socialismo nesse longo processo histórico, o que motivou a exibição dessa luta entre as várias posições, exposição essa que veio a acordar a Revolução Cultural neste país.

Os interesses de classes diferentes que existiam no interior dos partidos comunistas e que estiveram na génese da Revolução Cultural foram resultado de uma luta pelo poder de Mao Tsé Tung (ou Mao Zedong), levada a cabo dentro do Partido Comunista Chinês, mobilizando para o efeito as massas camponesas e operárias para integrar esse movimento revolucionário.

A existência de uma burguesia dentro do partido, que não se dissiparia com a Revolução Chinesa, acabaria por ajudar à construção de uma teoria segundo a qual coexistiram duas linhas dentro do mesmo: uma de índole revolucionária e outra de índole contra-revolucionária, onde se situava uma franja dessa burguesia. A idolatria a Mao Tsé Tung e o enorme movimento de massas que teve em Mao Tsé Tung figura tutelar expandir-se-ia internacionalmente e o seu impacto entre um conjunto de protagonistas da música e da cultura populares atentos à discussão política, até aí afectos ao Partido Comunista Português, começou a sentir-se.

Com a experiência trazida por José Mário Branco do seu primeiro fonograma, de expressão declaradamente anti-colonialista, produzido durante o seu exílio de 13 anos em Paris, «A Ronda do Soldadinho», e a radicalidade que enformara mais tarde a própria existência do GAC (Grupo de Acção Cultural) e que consolidaria na chegada a Portugal, a 30 de Abril de 1974, começava a assumir-se entre ele e um grupo de jovens, que faziam parte das suas relações e eram figuras habituais das suas actuações em fábricas ocupadas e associações em Paris, uma vontade de romper com o modelo de discussão política anterior, «(...) estavam uma série de pessoas que em Paris assumiam uma atitude mais ou menos parecida com a minha, que era de ruptura com o sistema. E portanto quando se chega a Portugal e o GAC depois ganha a configuração que ganha, primeiro foi uma grande misturada, nem se chamava Vozes na Luta era só Grupo de Acção Cultural, e depois esse grupo mais ou menos amorfo dividiu-se em vários, mais ou menos em função das diferenças políticas que havia na esquerda portuguesa. Há uns que foram para o PC e fizeram um grupinho ligado ao PC, outros que eram da LUAR e fizeram um grupinho ligado à LUAR, para onde foi o Zeca Afonso e o Sérgio (Godinho), etc. Nesse primeiro GAC digamos que claramente maoísta, e definido como de extrema-esquerda maoísta estava eu (...). O GAC não nasce digamos por uma iluminação repentina no 25 de Abril, em Paris no ano anterior ao 25 de Abril já estava em gestação um grupo cuja ideia era precisamente isso: fazer música, e não só. Fazer música proibida, música ilegal, música de resistência, música subterrânea. Eu tinha tido uma cooperativa em que participei com amigos franceses chamada Organum já mais experiências de auto-edição de coisas marginais, completamente marginais, e que eram financiadas fora do sistema (...)» referia o músico numa das várias conversas que mantivemos e registei.

Uma parte deste extenso processo, que iniciava com a sua ligação à cultura, à política e à sociedade no período colonial, no contexto do seu exílio político, no PREC e no pós PREC já em Portugal foi relatada no corpo das suas canções, reflectiu-se de um modo directo na sua obra discográfica entre os anos assinalados, assumindo-se a canção muitas das vezes como um modelo de discussão de fácil apreensão e circulação entre as camadas populares politizadas que surgiram neste período e pré-financiaram as suas obras.

«É em França que, por um lado num primeiro período a minha única actividade para além da sobrevivência é participar em lutas políticas, em grupos políticos, cujo objectivo era ao mesmo tempo a discussão sobre o que fazer em relação a Portugal: luta armada ou não luta armada contra a ditadura portuguesa, conflito da União Soviética, tomar partido pela China ou partido pela União Soviética, e a questão da divulgação e da denúncia da ditadura portuguesa e da guerra colonial pela Europa fora. No princípio dos anos 70, cerca de dez anos depois, Paris era a segunda cidade de Portugal, só em França éramos oitenta mil desertores e refratários para um país de nove/dez milhões de habitantes (...)».

As mudanças operadas no comportamento geral da emigração portuguesa durante o período da Guerra Colonial contribuiriam para a introdução de alternativas de luta, algumas já atentas ao modelo de discussão que aqui emergia e se ia materializando em organizações, outras de curta existência como foi o caso do Movimento de Acção Revolucionária (MAR) criado na sequência da crise académica de 1962 e apontado como uma das referências da esquerda socialista radical [8].

A emigração portuguesa em França, à semelhança da emigração no Benelux, em Inglaterra, na Alemanha, na Suíça ou nos países escandinavos, que até aí fora uma emigração quase exclusivamente da pobreza, uma emigração económica (emigração que no cinema seria também retratada pelo realizador Christian de Chalonge no filme de ficção O Salto, de 1967, filme que contaria com a música de outro exilado em França nesse período: Luís Cilia) passou neste período histórico (1961 – 1974) a ser, com a ida de dezenas de milhares de jovens universitários contra a guerra, uma emigração política e sobretudo cultural e intelectual. O facto de muitos destes jovens se começarem a integrar nas associações que até aí serviam grosso modo os agrupamentos folclóricos e as festas religiosas da emigração, fez com que se desse uma politização não de todas mas de grande parte dessas associações de emigrantes portugueses que começavam, por isso, a abandonar o modelo tradicionalista associativo durante a sua estadia em Paris.

«Aqueles que como nós a partir de certa altura, este plural é eu, o Luís Cilia que também vivia em Paris, o Tino Flores que também vivia em Paris, o Sérgio (Godinho) que começou a viver em Paris a partir de 1967 que cantávamos canções ou que denunciavam ou que abriam novas fronteiras, digamos assim, para a comunidade não tínhamos descanso. Andávamos sempre a cantar pela Europa toda, a Europa do norte sobretudo, sempre a cantar para associações. O disco A Ronda do Soldadinho é resultado disso, foi um disco feito propositadamente na ilegalidade, aproveitou da experiência que eu tinha ganho já a produzir discos, a arranjar, a fazer colaborações, e foi financiado com pré-compras do movimento associativo» relembrou José Mário Branco numa das conversas gravadas, permitindo através da partilha da sua memória reforçar a relevância que o exílio tivera na perspectiva crítica que muitos, oriundos do Partido Comunista Português (PCP), passaram a assumir dentro do partido, que Cardina assinalaria numa passagem do seu trabalho através do relato gravado de Rui D’Espiney (pp 41 – 43), «Em Paris, as pessoas que para lá tinham fugido reentram no PC, mas com uma perspectiva crítica. Aí, numa reunião, encontram um funcionário a quem voltam a fazer críticas. O funcionário assume as dores do partido, o Manuel Claro ficou desanimado, mas nessa noite batem-lhe à porta e é esse funcionário que lhe vem dizer: ‘o que vocês dizem está certo mas há muito mais para dizer’. Era o Francisco Martins Rodrigues» [9].

http://www.muralsonoro.com/mural-sonoro-blog/2016/7/4/maosmos-e-cultura-popular-experincia-portuguesa-repertrios-e-discursos-a-partir-da-obra-de-jos-mrio-branco-1972-1975-por-soraia-simes

domingo, 11 de junio de 2017

"No es nada sencillo ser la hija de un comandante guerrillero" — Astorga Redacción. Periódico digital de Astorga, Teleno, Tuerto y Órbigo

"No es nada sencillo ser la hija de un comandante guerrillero" — Astorga Redacción. Periódico digital de Astorga, Teleno, Tuerto y Órbigo





'Pizarro' es un documental acerca de la carga de la herencia familiar. Comienza cuando María José Pizarro, hija del fundador del M-19 de Colombia, en el exilio encuentra una carta escrita por su padre 30 años atrás Se da cuenta que no importa lo lejos que corra, no podrá escapar de su fantasma. Veinte años después del asesinato de su padre, ella está dispuesta para levantar el velo y descubrir un capítulo de la historia de Colombia que ha sido silenciado por la violencia y el miedo.
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La herencia genética de María José Pizarro no deja lugar a dudas, hija de Carlos Pizarro Leongómez, fundador de M-19 (o movimiento de un día 19 –fecha en la que se creó-), decidió oponerse a la vía armada de la guerrilla tradicional para firmar un acuerdo de paz con el gobierno veintisiete años antes del acuerdo definitivo de paz que ahora todos conocemos.

Hablamos con María José Pizarro de sus múltiples facetas como artista plástica, superviviente y activista en la defensa de los derechos humanos y en la construcción de la paz. Experta en el trabajo con organizaciones de víctimas, organizaciones sociales e instituciones públicas, en procesos de recuperación y construcción de la memoria histórica desde una perspectiva participativa, actualmente es directora de la Fundación Carlos Pizarro Leongómez y coordinadora de Participación de Víctimas de la Agenda Exilio del Centro Nacional de Memoria Histórica.

También pudimos conocer al realizador, de equidistantes inquietudes a la de su musa, Simón Hernández, productor y montador de su propios filmes, a veces ante la negativa de las grandes corporaciones a producir su obra, con una amplia experiencia en el documental. Director del Festival Inedit Colombia, ha trabajado en la BBC, Canal ARTE, CNN, DFI, TVE, TVC, Caracol y Señal Colombia. Además de los numerosos premios otorgados con PIZARRO como director, también ha sido partícipe en galardonados filmes como I will be murdered (Barcelona, Reino Unido, 2013), Gabo, la magia de lo real (Bogotá. Barcelona, 2015) o el cortometraje Espíritus de Drassanes.


María José detenta una mirada intensa y enigmática. Desde el azabache profundo e inabarcable de sus ojos parece contener todas esas preguntas que se ha hecho en vida, en torno a su existencia, su pasado y todo aquello que representa en nuestra sociedad. Sin embargo a la hora de realizar ‘Pizarro’ y de plasmar sus reflexiones, ha optado por huir del panegírico y comenzar por las preguntas más incómodas, las que siempre se hizo al referirse a su progenitor: "¿Por qué después de devolver las armas y de la Amnistía General continúas en el conflicto? ¿Cuál era la intención de conformar una familia si tú no ibas a estar aquí, con nosotros?... "


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María José declara cómo al principio todos podían creer que era un lujo ser la hija de Carlos Pizarro; no obstante, habiendo reconocido este privilegio en múltiples ocasiones, también afirma: “No es nada sencillo ser la hija de un comandante guerrillero que, aunque haya logrado la paz, es necesario emplazar la historia de otra forma para que se pueda aportar un enfoque adecuado, más completo, más humano; un análisis diferente a lo que implica por sí mismo el momento histórico. En términos personales permite sanear, adecuar, exponer de una manera más limpia, cercana y humana el hecho de ser su hija, lo que a su vez me ayuda a transitar de nuevo por su vida, más orgullosa y más digna... Tras un proceso de cinco años para recuperar mi identidad, ya que el de mi padre era un crimen que estaba a punto de prescribir, y después de llevar a cabo pruebas de ADN, me tuve que constituir como parte civil en el caso para investigar no sólo los sucesos que rodeaban su muerte, sino los propios sucesos en la historia reciente colombiana con un trabajo de quince años. Esto permite una respuesta mucho más emocional. He procurado hacer un trabajo muy exhaustivo, de hecho fue requerido el documental como parte de las pruebas procesales del caso, tiene todo el rigor y es un aporte más al esclarecimiento de su muerte y de la verdad de Colombia…”

Tampoco duda en compartir su sueño más íntimo:

“Siempre sueño que llego al campamento y me dicen: Carlos está vivo. Y entonces yo pienso: pero ¿cómo me pudo haber hecho esto? ¿Cómo es que lleva veinte años vivo y yo muriéndome por hablar con él, por preguntarle: ¿Por qué me han abandonado a mí?... Y cuando ya lo voy a ver me despierto… Es como un fantasma, como un aire que pasó…”


Sobre su autoexilio, o quizás exilio forzoso a Barcelona, no alberga la menor duda:

“Ya no había las condiciones de seguridad para quedarme en mi país. Me acuerdo que miraba al mapa y decía: estoy demasiado cerca, tengo que ir más lejos…  Yo quería irme a un lugar donde no me conociera nadie, donde no encontrara recuerdos de él en ninguna esquina, perderme en el mapa en sí… Y entonces decido exiliarme pues a Barcelona. Llevé sus pertenencias: sus zapatos de la campaña, su radio, su sombrero, sus mejores fotografías, recupero todas estas cosas dieciocho años después… En esta ciudad encontré la paz que necesitaba para poder conocerme a mí misma y entre más buscaba información más me fui dando cuenta de que él estaba dentro de mí…”

Sin embargo, el deseo de retornar, nunca cesó, y allí encontró sus más valiosos hallazgos:

“Llegó un momento en el que debía tomar la decisión de regresar a Colombia a reconstruir esta historia…  Me encuentro entonces con titulares como los que asociaban al M-19 con el robo de un gran arsenal del Ejército, que aún están sin identificar, tengo tres cintas de video con imágenes inéditas que resultan sorprendentes sobre la lucha contra la guerrilla en las montañas… Cuando soy plenamente consciente de mi identidad, del hecho de ser la hija del comandante o líder del M-19, empiezo a descubrir que mis ojos tal vez son sus ojos, me concentro en sus discursos… “Con respeto al pueblo lleno de necesidades, al pueblo en lucha y al pueblo en combate”…


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“Tras visionar escenas de lucha y oposición observo otras en la que entregan las armas y se escucha… “El M-19 hace dejación de la última arma por la paz y la dignidad de Colombia…”

Toma entonces la trascendental decisión de acudir, 'in extremis', a los tribunales de Justicia:

“Me desplazo hacia la Comisión Colombiana de Juristas para trabajar en torno al caso de mi padre, revisando todos sus expedientes… Realizo una campaña en la que constato que me encuentro allí con la voluntad de que se cumpla lo que se prometió momentos después de su asesinato. Me solidarizo entonces con reivindicación de las víctimas y sus derechos…”

Su discurso reivindicativo posee la intensidad y elocuencia de los de su propio padre:

“El pasado 26 de abril se cumplieron 25 años de la muerte de mi padre…  Yo he venido de una lucha muy larga contra la impunidad que ha rodeado el caso. Para este aniversario pudimos realizar la película y emitirla en la televisión nacional y las reacciones fueron conmovedoras, gratificantes… Fue muy sorprendente la calidez del público hacia la película y la respuesta masiva del 26 de abril nos dice que es posible… Creemos que esta película puede llegar a todos los rincones de este país y que puede ser vista por todos los sectores sociales, llevarla por todos los pueblos donde se pueda mostrar y que esté presente en las salas de cine, con una adecuada distribución que llevaría más allá este mensaje de reconciliación, de paz hacia el mañana…”

El director, por su parte, afirma que “es una película documental que mezcla la visión personal y política de Carlos Pizarro, que apela más a la emoción, a comprender la historia de Colombia, con el testimonio de su hija. Más allá de la suma de hechos o verdades parciales que forma la comprensión de la Historia, ¿qué tal si comenzamos a entenderla a través de la emoción, si todos los muertos que ha habido en la guerra, comenzamos a entenderlos no como una cifra más sino con su verdadero valor?... Por eso la fórmula que hemos creado es acercarnos a la historia desde los ojos de la hija, sin el análisis frío de los desaparecidos o asesinados. Su padre no fue un líder de guerra sino un líder de paz.

Es un gesto de resistencia al olvido, a esto que está destinado a no ser hablado ni comentado, porque si en un momento nos mostramos escépticos a la hora de alcanzar una respuesta, que al menos quede constancia de que no nos hallamos parados en las preguntas, sino que queremos llegar siempre al final, esa es nuestra posición: encontrar el final del proceso a pesar de lo injusto. Se trata de una posición muy fuerte y digna.

No debemos olvidar nunca que Carlos Pizarro fue y es un icono de la guerra pero también de la paz,  un canto a la capacidad de transformación, a poder cambiar la propia historia…”.

Información sobre la película: